domingo, 13 de julho de 2014

Encarando a realidade do mercado

Somos um casal de jovens e começamos nossa busca no mercado imobiliário, imaginando que não teríamos grandes dificuldades em encontrar um apartamento confortável, sem nenhum luxo, obviamente, mas ainda assim confortável e localização com infraestrutura básica e fácil acesso às principais vias da cidade de São Paulo. Nossa renda é igual ou um pouco acima da média dos jovens paulistas da nossa faixa etária, entre 24 e 30 anos que estão no seu primeiro ou segundo emprego.
Como a grande maioria das pessoas, iniciamos a busca de imóveis pela internet. Selecionamos alguns bairros que atendiam às nossas necessidades e apartamentos de 3 dormitórios e 2 vagas. Acreditamos que esse perfil de imóvel atenderá as nossas necessidades no longo prazo e as 2 vagas são necessárias em virtude de termos dois carros para nossa locomoção para trabalho.
Gostaríamos de não utilizar um financiamento , mas diante das informações que tínhamos e situação dos preços, admitimos que isso fosse algo aceitável. Partimos para as visitas e, de fato, TODOS os apartamentos exigiam, no mínimo, um empréstimo imobiliário de R$ 200 mil, considerando que temos uma reserva de R$ 230 mil. Esse valor seria APENAS para compra do imóvel, sem considerar reformas e mobília, que estimamos custar no mínimo R$ 40 mil.
Nosso choque de realidade começou nas planilhas e terminou nas visitas aos imóveis, quando  constatamos nossa preocupação...Não somos ricos! Refletimos que além da dívida do financiamento, comprometendo 30% da nossa renda, ainda não teríamos como reformar e mobiliar o imóvel e teríamos que nos privar quase totalmente de cursos, gastos com saúde (academia, tratamentos médicos, odontológicos, etc), viagens, diminuindo bastante a nossa qualidade de vida atual, além do risco de ficarmos inadimplentes caso um dos dois ficasse desempregado.
Na nossa análise, identificamos quatro opções:
(1)    comprar um apartamento em bairros mais distantes da principais vias de acesso e dos principais centro comerciais, com menos infraestrutura  e com preços mais acessíveis;
(2)    entrar no financiamento;
(3)    adiar a compra com a expectativa de juntar mais dinheiro;
(4)    partir para o aluguel.
Percebemos que a opção 1 para adquirir no curto prazo seja a mais viável, no entanto deveríamos compreender muito bem o que ocorre com as três outras opções.
A segunda opção foi muito discutida entre nós, mas vimos que os juros estão muitos altos, entre 7,5% e 10% ao ano. Atualmente, a taxa Selic passa por um ciclo de elevação, por conta do aumento da inflação, o que deve fazer com que os juros aumentem ainda mais. Para aceitarmos esse financiamento teríamos que adquirir um prazo de 30 anos para quitar o imóvel o que nos parece um absurdo, uma vez que passaríamos metade de nossas vidas pagando o imóvel. Obviamente consideramos a oportunidade de amortizar a dívida, mas, mesmo assim, o custo de oportunidade do financiamento será alto para nós.
A terceira pareceu razoável no primeiro momento, considerando que, perante ao mercado, deveríamos ser mais ricos.No entanto,  a nossa renda aumenta, em média, entre 5% a 8% ao ano, acompanhando a inflação, enquanto que os imóveis valorizam-se mais de 10% ao ano, ou seja, fazendo um conta básica, se  hoje o apartamento que queremos custa R$ 500 mil, em 12 meses, ele custará R$ 550 mil, em média. Podemos juntar R$ 100 mil nesse período, mas como houve aumento de US$ 50 mil no valor do apartamento, os nossos R$ 100 mil, viram apenas R$ 50 mil no poder de compra do imóvel. Nosso esforço de um ano é reduzido pela metade por conta da supervalorização do mercado.
A quarta opção, o aluguel, não nos parece atrativa, pois o valor do aluguel do imóvel que desejamos é praticamente igual à parcela do financiamento que estávamos imaginando (R$ 2000/mês). Vimos depoimentos de pessoas em outros blogs que estão vivendo de aluguel e querem comprar um imóvel, no entanto, essa situação é bastante complicada, uma vez que elas já se acostumaram a viver em um apartamento que atende plenamente às suas necessidades e se forem para o imóvel próprio precisarão optar por um lugar menor, localização não tão favorável, dentre outros fatores para conseguir pagar o financiamento em uma mensalidade similar ao aluguel atual. Além disso, existe a ilusão de que pagando aluguel é possível economizar dinheiro para dar uma entrada maior no imóvel, no entanto, isso vai depender muito da gestão financeira de cada família e dos imprevistos. Também é importante considerar que pagando o aluguel, provavelmente, você precisará se privar de algumas coisas, assim como no financiamento.
Outro ponto em relação ao aluguel, é que muitas pessoas acreditam que seja mais flexível do que comprar um imóvel, no entanto, o aluguel possui um contrato com prazo, que se não for cumprido, implica em multas e o proprietário pode querer o imóvel de volta.
A pergunta que ficou... Isso é razoável? Precisamos ser RICOS para viver confortavelmente ou o mercado está fora da realidade, cobrando preços injustos?
Nós não queremos pagar um preço abaixo do que realmente vale o imóvel, mas também não estamos dispostos a desmerecer o dinheiro que nos esforçamos tanto para poupar. Queremos apenas ter equilíbrio entre o custo do apartamento e a nossa renda, ou seja, pagar um preço justo.
Nossa percepção é que os preços estão surreais, é praticamente uma piada e nós somos todos palhaços no mercado “imobhilário”, caindo em muitas notícias enviesadas dos agentes interessados em nos pressionar a comprar imóveis a preços que nos “estrangulam”. Entendemos que esse mercado é influenciado pelos seguintes agentes: construtoras, investidores, proprietários de imóveis, pessoas interessadas em comprar imóveis e governo/bancos. No próximo post do blog iremos apresentar a nossa percepção de como esses agentes atuam para inflar os preços do mercado e como há possíveis indícios de uma bolha e mostraremos também nossa experiência ao visitar os apartamentos.
Não estamos aqui expondo nossa opinião para desmotivar as pessoas que querem comprar imóveis (porque nós também queremos), o que gostaríamos é de compartilhar nossa experiência e entender como outras pessoas, jovens ou não, que também estejam planejando a compra de um imóvel estão lidando com essa situação.
Por enquanto, estamos considerando a primeira opção, imóveis em regiões mais afastadas, mas ainda assim, como dissemos anteriormente, os preços estão elevados, muito acima do que anos anteriores e próximos ao valor do que pretendemos pagar à vista, nos deixando sem reservas para emergências e para mobiliar o apartamento. Continuaremos pesquisando e aguardando uma boa oportunidade no mercado “imobhilário” que, para nós, não é tão engraçado assim.

Por favor, envie seu depoimento ou história por e-mail que compartilharemos aqui no blog. Assim, poderemos entender a realidade das pessoas que realmente querem comprar o tão sonhado imóvel.